É evidente que muitos municípios foram criados sem a menor condição de se manterem, gerando suas próprias receitas, administrando suas finanças com justeza e controle e, assim, proporcionando o bem-estar de seus habitantes.
Editorial, Estadão
É inquestionável o valor do trabalho desempenhado pela Assembleia Nacional Constituinte – cuja instalação completou 30 anos em fevereiro deste ano – para dar ao País a Carta Política que fez do regime democrático o princípio fundamental que norteou a reorganização do Estado após os duros anos da ditadura militar.
Não obstante esse devido reconhecimento pelos esforços dos 559 parlamentares constituintes e pelos incontrastáveis avanços institucionais e civilizatórios trazidos pela Constituição de 1988 – como a proteção de direitos e garantias fundamentais que por anos foram negligenciados –, também é justo reconhecer que muitos dos desafios que o Brasil tem de enfrentar hoje estão assentados em preceitos constitucionais que representam muito mais o afã daqueles legisladores de dar rapidamente uma feição democrática ao País do que o resultado de um processo legislativo cuidadosamente amadurecido.
A prova disso é que, de 1988 até agora, a Constituição já foi emendada 96 vezes e dezenas de outras Propostas de Emenda à Constituição (PEC) tramitam nas Casas Legislativas, em diferentes estágios.
Uma das mudanças trazidas pela Constituição de 1988 e que determinam a agenda de hoje foi a alteração do status dos municípios no âmbito da organização do Estado, reconhecendo-os como entes federativos e, como tais, dando-lhes ampla autonomia política, financeira e administrativa. Na prática, a Carta Magna equiparou os municípios, juridicamente, à União, aos Estados e ao Distrito Federal.
A partir de 1988, devido ao abrandamento das regras de emancipação de porções do território em unidades políticas locais, observou-se um rápido crescimento do número de municípios no País, fenômeno que durou até 1996, quando o Congresso, diante do evidente problema fiscal e político, aprovou a Emenda Constitucional 15, dando nova redação ao parágrafo 4.º do artigo 18, instituindo a obrigatoriedade do Estudo de Viabilidade Municipal antes do prosseguimento do processo de emancipação.
Entretanto, mesmo com o aumento das exigências para a criação de novos municípios, muitos foram constituídos sem a menor capacidade de manterem-se por si mesmos, gerando as suas próprias receitas e administrando as finanças locais sob a égide da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Dos 5.570 municípios brasileiros, quase a metade descumpre a LRF (ver editorial A crise fiscal dos municípios, publicado em 4/9/17), de acordo com um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Dos entes federativos avaliados pela instituição fluminense, 87% fecharam as contas de 2016 em situação difícil ou crítica.
Um dado ainda mais alarmante foi revelado pelo Estado: em 10% dos municípios, 80% da força de trabalho é composta por funcionários públicos. E deste grupo de municípios, impressionantes 96% estão em situação fiscal difícil ou crítica, segundo o mesmo levantamento feito pela Firjan.
Em Bom Jesus da Serra, por exemplo, no interior da Bahia, o porcentual de funcionários públicos entre os munícipes chega a 90%. A prefeitura está à beira da ilegalidade por comprometer 58% de seus recursos com a folha de pagamento, muito perto do limite de 60% da receita corrente líquida fixado pela LRF para os gastos dessa natureza. Já os que não trabalham na administração pública viram-se com pequenos comércios, uma modesta atividade agrícola ou dependem do auxílio da União por meio de programas sociais como Bolsa Família e Bolsa Safra.
É evidente que muitos municípios foram criados sem a menor condição de se manterem, gerando suas próprias receitas, administrando suas finanças com justeza e controle e, assim, proporcionando o bem-estar de seus habitantes. Prestam-se tão somente a atender a interesses muito particulares – como a barganha por recursos estaduais e federais –, além de fortalecer forças políticas locais que não têm compromisso com o bem comum.
3 comentários
Caro Fabio, sou do interior do Paraná, muitos dos pequenos municípios,têm que ser extintos imediatamente, pois hoje 100% do dinheiro que entra no caixa do município, é para somente pagar os funcionários e a câmera de vereadores. Fábio, a título de informação, esses municípios contratam médicos por exemplo, pagam um salário mensal de 30.000,00 a 35.000,00 dentistas de 20.000,00 a 25.000,00, para piorar, muitos deste médicos estão com filhos formando em medicina e forcam o prefeito para contratarem na Prefeitura com isso não têm Prefeitura que aguentam pagar esses absurdos de salários. Fabio, é sabido de todos que hoje já está sobrando médicos e dentistas, com isso essea Prefeituras deveriam estipular os salários dos médicos e dentista, no máximo 5.000,00 mensais.
Prefeituras de municípios com até mil habitantes, sustentando a estrutura das administrações, das câmaras. Um absurdo. Com até 7.000 habitantes, deveriam ser anexadas às próximas mais populosas. Um sub-prefeito, acolitado por outros dois funcionários, dariam conta perfeitamente de gerir os distritos.
Municípios pequenos só sobrevivem com recurso da união isso deveria se melhor analisando pelas autoridades, são pequenos por natureza a grande maioria são muito mal administrados, somando isso com aquilo seria melhor voltar ao município mãe.