De Josias de Souza, da Folha Online
Certos nomes ganham, com o tempo, a aparência de sentenças. Por exemplo: Vitória e Honestino. Duas sentenças à espera de um desmentido.
Outro exemplo: Brasil. O único país do mundo que tem nome de árvore. O nome resistiu ao tempo. Mas a árvore, coitada, foi abaixo faz tempo. Por conta de sua tinta avermelhada, o pau Brasil despertou a cobiça dos colonizadores. urou pouco o pobre pau. Restou ao Brasil tentar salvar o que lhe restou de mata.
Outro nome que já nasceu desmoralizado foi “Horário Eleitoral Gratuito”. Nesse caso, a desautorização veio já na certidão de nascimento. A lei que criou o horário tratou de fixar o preço de sua pseudogratuidade.
Hoje, a encrenca está regulamentada num decreto de 2001, número 3.786. Autoriza as emissoras de rádio e TV a abater no Imposto de Renda 80% do valor que seria pago por prováveis anunciantes na hora da exibição dos programas políticos.
A regra vale para a propaganda eleitoral e também para aqueles programas que os partidos levam ao ar nos anos não-eleitorais. Graças à brincadeira, a Receita deixou de arrecadar, nos anos de 2006 e 2007, R$ 713 milhões. O preço da publicidade eleitoral das eleições municipais de 2008 só será conhecido em 2009.
De antemão, sabe-se apenas que, de “gratuito”, o horário eleitoral só tem o nome. Quem financia a xaropada é você, caro eleitor. É o preço da democracia. Preço necessário, convenhamos. Mas os candidatos bem poderiam entregar um produto mais bem acabado.
Algo que fosse, pelo menos, crível.
Ilustração: El Roto/El Pais
2 comentários
Caro Fábio,
Eu acho que as empresas estão certas nessa postura e não ficam devendo nada a ninguém. As empresas – mesmo que concessões públicas – fazem enormes investimentos em tecnologia, abriga um exército de funcionários, portanto gera emprego e renda digna. Desta forma já está dando a sua contribuição ao país.
A grade da emissora é a sua carga horária no ar e, por conseguinte, seu estoque de segundos e minutos que precisam ser vendidos para gerar recursos para honrar os compromissos, ou fecha às portas como já aconteceu a muitas delas.
Pena que o tal horário político perdeu a qualidade, esgotou o modelo e o Tribunal Eleitoral ainda não começou um debate sério para mudar esse quadro, cada dia mais triste e desinteressante.
Aliás, nem os políticos se interessaram até agora em mudar para melhor o que fazem há anos mal e porcamente.
Postei um comentário para o NAGIB lá no artigo sobre o Doático