Seria injusto não ver no “governismo”, em muitíssimos casos, um cerne de convicção e, até, de vocação.
Há pessoas, de esquerda e de direita, que nascem governistas. Assim como há as que nascem para tocar flauta ou, simplesmente, para pregar o Evangelho ou os pensamentos do coronel Chávez.
O PMDB nasceu para ser a oposição permissiva da ditadura militar. Tornou-se com o tempo o mais perfeito e acabado partido de governistas. Assim, simplesmente. Reúne pessoas que gostam do governo e querem servi-lo, embora, como é natural, em troca de compensações adequadas.
Houve um tempo em que o PMDB sofria de vícios e limitações impostos pelas circunstâncias. Mas tinha em seus quadros oposicionistas autênticos, como Alencar Furtado, Maurício Fruet, José Richa e Waldir Pugliesi, entre tantos.
Hoje, parece uma agremiação criada para aplaudir o governo. E assim sendo reúne gente que já aplaudiu governos como o de Haroldo Leon Peres, Jaime Lerner, Paulo Pimentel e Jaime Canet e hoje se sentam na primeira fila da escolinha para fazer o que melhor sabem fazer, aplaudir o governo.
Desta vez, é o governo Requião. É instigante ver pessoas de discursos ideológicos variados unidos no mesmo entusiasmo de sempre e com a alegria típica de governistas no poder. A esquerda funcionária, então, é comovente. Imaginem a moçada que fala em revolução a fazer piruetas mentais para justificar essa firme adesão ao governo.
A excitação cívica da moçada a bater palmas para o chefe, a rir quando ele comanda e a se indignar quando ele pede, demonstra a quanta anda a inspiração revolucionária substituída pela vocação funcionária. Mas quem dessa tigrada poderia resistir ao cargo em comissão? Quem se negaria a receber prebendas, benesses e mordomias e, acima de tudo, sentir-se autoridade?
Um comentário
Posso até ser chamado de ingênuo, bobo ou o que seja, mas acredito que existam pessoas que negam a receber “propinas” por causa de suas esperanças em um mundo mais justo.